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Blog da Turma C de Cinema e Rádio e TV do 1° Semestre de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Hélio Oiticica - Museu é o mundo



Por Giovanna Giordano - cinema


Instaladas em 3 andares do prédio Itaú Cultural, cerca de cem obras do multi-artista Hélio Oiticica, fazem com que o momento lá fora seja deixado de lado, para que possamos sentir penetrar em nós toda a aura e intenção que ele teve ao pensar e executar, cada uma de suas peças.
Nas paredes do 1° andar, podemos ler trechos de uma entrevista feita com Oiticica durante a década de 1960, descrições de seus processos artísticos, um pouco de sua história. Ao afirmar que o espaço é a pintura e que o material utilizado não importa, o carioca sinaliza suas características Neoconcretas - ele foi um dos fundadores do grupo (1959) junto com artistas como Amilcar de Castro . Observa-se isso com a coleção Metaesquema (1968), todas feitas do simples combinado de papelão e tinta guache. E é aqui que percebemos, a habilidade do artista ao mesclar formas geométricas, cores puras (vermelho e azul), texturas e trazer sensibilidade ao espectador. E ao transpor suas pinturas para o espaço aéreo, com suas obras suspensas, Hélio Oiticica quebra com o conceito de que pintura é sinônimo de quadro.





Na década de 1960, o carioca cria o Parangolé: a antiarte por excelêcia. Por ser uma pintura viva e ambulante, como o Aspiro ao grande labirinto, é a partir dos movimentos de quem o visita, a possibilidade de interação com a obra, que é possível perceber de forma sensorial e orgânica, os aspectos trabalhados por Hélio, como cor, textura, forma e material.

" (...) O intelecto cria leis e preconceitos, obstrui a expressão cósmica, dificulta o sublime. E para mim, toda grande expressão de arte aspira ao sublime. A tendência do artista e ser cada vez mais consciente do que faz (...) " - fragmento de texto retirado das paredes da exposição





Apesar do clima sério e quieto do 1° andar, ao descer para os subsolos é que podemos experimentar as obras sensoriais e interativas, propostas pelo artista. Uma "casinha" feita de tule e tela, iluminada com luzes azuis, vermelhas e amarelas, encontramos uma sala de estar; dois pianos paralelos sendo altamente assediados por crianças da 4a série fundamental da Escola da Vila, que incrivelmente sabiam tocar desde "me dá danoninho" até "All the lonely people" e deram um show para os poucos que passavam por ali; raízes aéreas e lixo espalhado. Todas as outras obras interativas estavam "ocupadas" com as crianças, e foi incrível perceber as reações dos pequenos ao descobrirem que deviam tocar nas peças e coisas ali expostas para compreendê-las.

Mas o que Hélio Oiticica realmente quer ao propor toda essa interação? A resposta vem novamente, colada nas paredes "O que seria o objeto? Nova categoria ou nova maneira de ser da própria estética?(..) criado na participação cada vez maior do espectador, supera-se o fim como expressão estética." - extraído de Ao meu ver: Novo Comportamento. Em obras como Tropicália, na criação dos bólides, ele pôde transmitir suas críticas ao sistema político vigente (ditadura militar), ao caráter das pessoas e ao futuro, o fim que as coisas levariam.

Incrivelmente, hábil e engenhoso nas suas concepções, Hélio Oiticica é um multi-artista que não tem semelhantes para se comparar. Sua obra vai muito além daquilo que vemos: está no processo criativo, nos rascunhos, no material e sua origem, na capacidade do espectador em interagir com a obra e completá-la e/ou transformá-la. Hoje tive a certeza, que mesmo após 30 anos do falecimento de Hélio, pude ser transformada e agregar mais significados às peças deste homem fascinante, além de concordar que o mundo é realmente um museu!





Serviço: Hélio Oiticica - Museu é o mundo
Exposição: sábado 20 de março a domingo 23 de maio de 2010
terça a sexta 9h às 20h
sábado domingo feriado 11h às 20h
Grátis
Onde: Itaú Cultural, Avenida Paulista, 149, São Paulo, SP (próximo à estação Brigadeiro do metrô).
agendamentos e informações 11 2168 1876 [segunda a sexta 10h às 18h]

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